GALILEU · e‑ISSN 2184‑1845 · Volume XXIII · Issue Fascículo 1‑2 · 1st January Janeiro – 31st December Dezembro 2022 · pp. 7‑9 8
tro se fazem sentir em toda a sua obra e nos estudos que jus processualistas penais têm
desenvolvido no espaço europeu e internacional. É um artigo que nos convoca olhar para
a obra de um professor, reflexo do que foi como pessoa, desde a década de 60 do século XX,
marcou e marca a ciência jurídico-processual.
Nereu Giacomolli e Roger Machado trazem-nos um estudo sobre o estado de inocên-
cia enquanto exigência constitucional e convencional na dimensão extraprocessual, que se
aplica a todos, incluindo aos meios de comunicação social. Propõem uma análise da publici-
dade processual a partir da presunção de inocência, definindo e idnetificando juízos para-
lelos condenatórios face ao inevitável confronto entre a liberdade de expressão e o estado
de inocência. Convocam as disposições legais do ordenamento jurídico penal do Brasil que
tentam responder às violações diárias ao estado de inocência, com maior incidência na Lei
13.869/2019 (abuso de autoridade), uma vez que trata, em parte, da dimensão extraprocessual
da tutela penal do estado de inocência. Os autores entendem que existe compatabilidade
entre a publicidade do caso criminal e o estado de inocência se os juízos prévios condenató-
rios não forem emitidos ou se a forma e conteúdo da comunicação puderem induzir à forma-
ção e compreensão do caso concreto e não à sua distorção e précondenação no espaço público.
Seguem-se dois trabalhos de alunos de mestrado em Direito [Ciências Jurídico-Policiais
e Ciências Jurídico-Criminais], desenvolvidos no âmbito do projeto de I&D: Corpus Delicti –
Estudos de Criminalidade Organizada Transnacional. Wilson Paese apresenta um trabalho,
que, ancorado na fase oficial da investigação preliminar de crimes de competência das auto-
ridades brasileiras, procura indagar se a obtenção de metadados e de conteúdo eletrônico
diretamente com o ente privado, que os armazena, tem respaldo nas disposições da Con-
venção de Budapeste, na legislação da União Europeia e no Cloud Act dos Estados Unidos da
América. O debate que o artigo nos traz é de extrema relevância por a descoberta da autoria
de grande parte das infrações criminais comuns poder ser celeremente obtida com recurso
aos meios de obtenção de prova eletrónicos, quantas vezes armazenadas em território físico
e digital estrangeiro, factualidade conflituante com os instrumentos de cooperação mútua
tradicionais que parecem estar desajustados ao problema da obtenção da prova. João Jorge
trata de um tema da atualidade jurídico-criminal, em especial do Direito penal económico,
que se prende com o regime jurídico vigente da perda alargada de bens e o debate científi-
co-jurídico sobre a (in)constitucionalidade do mesmo, procedendo a uma análise crítica do
texto-norma, da doutrina e da jurisprudência do Tribunal Constitucional, que já fora convo-
cado a pronunciar-se e a decidir sobre a conformidade constitucional deste regime jurídico
de perda alargada de bens. O autor, alertando para os perigos de a eficácia se sobrepor ao pró-
prio sentido de Direito, acompanha a posição defendida pela maioria da doutrina e afasta-se
da pronúncia e decisão jurisprudencial proferidas pelo Tribunal Constitucional.