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O impacto da pandemia (covid‑19) na saúde – pública, institucional e política – da união europeia
PAULO FRANCISCO
GALILEU · e‑ISSN 2184‑1845 · Volume XXII · Issue Fascículo 1 · 1st January Janeiro – 30th June Junho 2021 · pp. 113‑132
fundações de uma União Europeia da Saúde mais forte, na qual os 27 países trabalhem em
conjunto para detetar, preparar e responder coletivamente”24.
2. Visita à enfermaria da UE
A partir de Julho de 2020, a União Europeia começou a mudar a atitude cautelosa, em diplo-
macia e cuidados de princípios e burocracia, passando a assumir, sobretudo através da
Comissão, obviamente com o apoio do Conselho e do Parlamento que já se havia manifes-
tado, as rédeas do enfrentamento da pandemia, principalmente, em ordem à preparação de
programas, mecanismos e competências que no futuro pudessem ser uma mais-valia na
reação e na busca de soluções, imediatas e urgentes, capazes de proteger os seus cidadãos.
Foi com a saúde que a UE começou a alterar este conjunto de princípios e ações. Deve
referir-se, nesta situação, que a saúde (pública ou pessoal e genericamente considerada)
não era, sequer, dos bens mais valorizados pelos europeus nos inquéritos sociais realiza-
dos por toda a Europa e acompanhados, durante anos, pelas escolas e institutos socias, no
sentido de se poderem detetar tendências e problemas que pudessem ajudar a reconfigu-
rar caminhos de integração e comunhão, de cultura e valores comuns, capazes de refor-
çar a integração e coesão e capazes de justificar e aprofundar os valores seculares da UE.
Desde 1995, que a mais antiga e mais vasta rede internacional de pesquisa extensiva de
atitudes sociais, a “International Social Survey Programme” (ISSP), a que o Instituto de
Ciências Socias aderiu, pouco depois, estuda e acompanha, a nível de investigação acadé-
mica, as atitudes e receios dos cidadãos europeus relativamente aos seus receios e valores
no espaço europeu. Nestes 15 anos de investigação e trabalho, vários foram os temas estu-
dados e abordados – migrações, trabalho, ambiente, desigualdades sociais, religião e tra-
balho – mas, a saúde não era um dos bens valorizados pelos europeus, enquanto cuidado e
preocupação sobre o futuro, em quase nenhum dos países da União.25
A Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Parlamento Europeu agiram de forma
cooperante e concertada, a partir do segundo semestre de 2020 no sentido de alterarem
24 Cf. https://ec.europa.eu/info/strategy/priorities-2019-2024/promoting-our-european-way-life/european-health-union_pt
[consultado em 12/01/2021]
25 Cf. Conjunto de estudos e Bases de dados (resultantes de Inquéritos nacionais e europeus, que uma equipa vasta
de investigadores sociais do ICS promoveu e foi publicando anualmente, segundo os temas e programas deli-
neados pelo ISSP, com o título de coleção “Atitudes Socias dos Portugueses”, nos últimos 12 anos e disponíveis
em biblioteca e comercialmente na livraria do ICS. Estes estudos referem o problema das desigualdades sociais
e por essa via a distinção de acesso a cuidados de saúde e bem-estar, referem várias vezes a preocupação com o
ambiente e as alterações climáticas, associando-as a menor esperança de vida e maiores perigos para a saúde. No
entanto, a saúde, enquanto bem individual, capaz de garantir bem-estar e qualidade vida, não se revelava uma
preocupação de cuidado, refletindo que a maioria dos cidadãos europeus se sentia, de alguma forma segura e
confiante relativamente a este bem e ao modo de dele usufruir nos seus respetivos países.